UTFPR-DV está testando bebidas destiladas para saber se estão contaminadas com metanol
quinta, 30 de outubro de 2025
O custo é de R$ 20 por amostra, sendo necessário apenas 2 ml de cada bebida.
Na última segunda-feira, 27, pesquisadores e acadêmicos da UTFPR estiveram na Associação Empresarial de Dois Vizinhos (ACEDV/CDL) para esclarecer dúvidas de empresários locais sobre a intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas. O evento foi voltado empresas do ramo de bebidas, bares e restaurantes. Já quarta-feira, 29, durante participação no programa Educadora News, da Rádio Educadora, o professor Guilherme Bessegato, diretor de pesquisa e pós-graduação da UTFPR, explicou que a substância que não pode ser identificada pelo cheiro ou sabor.
“O metanol e o etanol, a gente classifica, na química, como álcoois. Eles são muito parecidos. A única diferença é que o etanol tem um carbono a mais. Não tem como detectar o gosto deles, o cheiro, a cor, não tem diferença nenhuma. O que eles têm de diferente são algumas propriedades químicas, como o ponto de ebulição, por exemplo, onde ele evapora e é por isso que é possível separar o metanol quando a gente faz a destilação. Um detalhe é que o metanol não é tóxico, mas quando ingerido, no nosso metabolismo, o fígado processa e produz uma outra molécula que é o formaldeído. Esse sim é muito tóxico e pode causar cegueira e outros problemas. O etanol também é processado no nosso organismo, mas ele gera o acetaldeído, que é um pouco tóxico e é o que dá a nossa ressaca”, explicou.
Ele falou ainda sobre que bebidas, além dos destilados, podem ter metanol. “Esse componente é gerado pelo processo da fermentação, então, quando a gente vai fazer uma bebida, mesmo que seja um destilado, a primeira etapa dessa bebida é fazer uma fermentação. Então, por exemplo, a cachaça vem da cana de açúcar, fermenta o caldo da cana e depois a gente destila para separar a água e etanol. Existem algumas moléculas na composição desse fermentado, principalmente, uma proteína chamada pectina, que a partir dela, quando é feita a fermentação, ela quebra e gera essas moléculas de metanol. A cerveja, por sua vez, que só usa grãos maltados, não deve existir metanol, porque não tem pectina. Resumindo, quando o processo envolve a fermentação de alguma fruta, pode ter o metanol”, explicou.
Guilherme alertou para os problemas não apenas de bebidas adulteradas, mas também as de baixa qualidade. “A adulteração nunca deixou de existir. Só que o problema é que agora o pessoal exagerou na mão. Temos que ter cuidado também porque temos muita bebida que vem do Paraguai, da Argentina, que a gente nem sabe qual que é o controle e, mesmo que não seja uma bebida necessariamente adulterada, temos alguns problemas relacionados com a qualidade. Bebidas destiladas podem ter metanol naturalmente por causa do processo da destilação, temos o limite da legislação, mas as de menores qualidades podem ter já quantidades razoáveis”, completou.
O técnico de laboratório Tiago Vila, técnico de laboratório da UTFPR, destaca que a universidade conta com profissionais e equipamentos de para realizar os testes que podem constatar a contaminação e está disponibilizando parcerias com os empreendedores para realizar a testagem de lotes. O objetivo é garantir a segurança e a qualidade das bebidas oferecidas no município. “Hoje o método oficial para essa análise é a cromatografia gasosa. Hoje, a UTFPR de Dois Vizinhos não dispõe desse equipamento, mas temos a cromatografia líquida. É um método cromatográfico um pouquinho diferente, mas, lógico, para fazer essa análise ali na UTFPR, eu fiz um estudo de validação do método, consegui, com referências bibliográficas, entender como é que tá o nosso equipamento perante a isso e a resposta foi muito boa. O Laboratório Central de Análise tem essa capacidade e, com 2 ml de bebidas já conseguimos diagnosticar. Por ser uma instituição pública, muitas pessoas acham que a instituição tem que ceder isso de forma gratuita, mas o laboratório tem o consumo de insumos, o preparo da amostra. Então, fizemos uma conversa e decidimos baixar o máximo possível o custo para a sociedade, que é de R$ 20 por amostra”, conclui.
Quem deseja fazer o teste de garrafas ou lotes de bebidas pode entrar em contato com a ACEDV/CDL pelo 3536-1235.
Sintomas
Os sinais de consumo de metanol costumam surgir entre 6h a 72h após a ingestão e podem ser confundidos com uma ressaca: dor abdominal, visão turva, confusão mental e náusea. Os sintomas iniciais são dores de cabeça, náuseas, vômitos, sonolência, falta de coordenação, tontura e confusão mental. Com o agravamento, os sintomas passam a ser dor abdominal intensa, alterações visuais (visão embaçada, pontos escuros, sensibilidade à luz ou cegueira súbita), dificuldade para respirar, convulsões e coma.
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